Exposição 'Quatro Paredes Caiadas' | Joana Vasconcelos
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A PALAVRA AO CURADOR:
«Este regresso ao Douro de Joana Vasconcelos teve início sob o signo da Responsabilidade Social, e a continuidade assegurada numa ação de extensão cultural que inauguramos hoje. A partir da Casa dos Noura, novíssimo equipamento da autarquia de Alijó, que acolhe a exposição Quatro Paredes Caiadas, pretende-se materializar uma nova prática de descentralização e disponibilização de bens e conteúdos fora do circuito internacional onde a artista se move habitualmente.
A antiga residência, dentro da vila duriense, assume o papel acometido anteriormente ao Castelo de Versailles e ao Guggenheim Bilbao, materializando no território ancestral de Joana Vasconcelos o que anteriormente teve palco em museus e centros de exposições internacionais, habitualmente inseridos em ambiente urbano.
O espaço selecionado acentua o pendor doméstico, do espaço da casa familiar e do pequeno universo onde se impuseram valores anacrónicos.
A realidade comezinha e o fado predestinado de um país remediado, condicionado do ponto de vista económico, sobrevivendo das colónias, das remessas dos emigrantes e baseado numa ordem social onde o respeito às instituições, ou pelo menos as demonstrações públicas do mesmo, a bem da nação, eram a condição essencial à sobrevivência.
Desrespeitando essa ordem de coisas – e recordando, numa citação queirosiana, que o desacato é condição essencial ao progresso – a partir de 8 de Abril e até 19 de Junho deste ano será possível visionar na Casa dos Noura, em Alijó, um conjunto de obras de Joana Vasconcelos, que incluem novíssimas peças, de 2020 e 2021, disponíveis pela primeira vez para o público. Há também obras de 2001 e 2002, o que permite acompanhar duas décadas de criação da artista, neste regresso a casa.
A mostra releva o empenhamento reiterado de Joana Vasconcelos na releitura e valorização da produção artesanal lusa, na apropriação de arquétipos da portugalidade – que poderia conduzir à sua irrisão, o que não ocorre nesta evocação que quase se transforma numa tarefa taxonómica – que se conjuga com um engajamento político e uma postura didática. Quatro Paredes Caiadas, o título da exposição retirado de um excerto de uma canção de Amália, acentua o valor da domesticidade, que pode ser espaço de reclusão ou de afirmação feminina. E neste processo de empoderamento, que implica a consciência dos próprios limites e a sua superação, é determinante o recurso ao magistério, essa maneira de projetar valores e de libertar as gerações vindouras dos constrangimentos do presente.
A releitura da Fonte de Duchamp, de 1917, realizada através de Marcel, Marcel, 100 anos depois do envio da emblemática obra modernista para a mostra da Sociedade dos Artistas Independentes em Nova Iorque, perspetiva a realidade concreta da coexistência de dois elementos do mesmo sexo como núcleo familiar. Neoblanc, de 2004, remete para as conexões entre pessoas, a sua interdependência e articulação, enquanto o valor da água e a importância estratégica da gestão deste recurso finito está presente em obras como Dripping Springs, de 2019, e Go With The Flow, de 2021, esta última uma estreia absoluta em termos de exposição.
Destaque ainda para a presença de peças da coleção da artista na Casa dos Noura, componente estratégica deste processo de apropriação/ contaminação, através do reforço do pendor doméstico de um espaço que esteve dedicado a atividades mercantis nas últimas décadas de utilização. Aquarela, de 2014, apresentada a solo no auditório da Casa dos Noura, com espaço para respirar, é uma instalação de azulejo e têxtil de grandes dimensões que mobiliza a atenção dos visitantes, cativando o público através da convocação de saberes artesanais e novas abordagens estéticas na construção do futuro da arte.
Neste projeto expositivo, que assinala uma deslocação do foco da criadora para uma construção de centralidades culturais em áreas geograficamente periféricas, a reapropriação de um território é reforçada simbolicamente pela presença na Casa dos Noura da instalação Tè Danzante, de 2018. Transportada diretamente da residência de Joana Vasconcelos para o Douro, o bule de ferro forjado de escala humana – que estanciou anteriormente no Luxemburgo, Nova Deli, Londres e Edimburgo - impõe-se no exterior do novo equipamento municipal, transformado temporariamente no solar da artista.»
D. André de Quiroga
SOBRE A ARTISTA:
Nascida em 1971, Joana Vasconcelos é uma artista plástica portuguesa com cerca de 30 anos de carreira, reconhecida pelas suas esculturas monumentais. Inspirando-se em objetos do quotidiano, referências pop, tradições portuguesas e na opulência do barroco, Joana Vasconcelos estabelece ainda um diálogo com artistas que a precederam, como Marcel Duchamp. Seguindo os passos de Niki de Saint Phalle ou Louise Bourgeois, o seu trabalho reúne uma enorme variedade de meios e materiais, do vídeo ao têxtil. Atualizando o conceito de artes e ofícios para o século XXI, serve-se de técnicas ancestrais para a prática contemporânea.
As suas esculturas imersivas e instalações site-specific dialogam com a arquitetura do lugar e convocam a interação do público. A artista estabelece a ponte entre o ambiente doméstico e a esfera pública, questionando o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva. Com humor e ironia, oferece novas perspetivas sobre a realidade.
A aclamação internacional chegou em 2005 com a primeira Bienal de Veneza a ter curadoria feminina e A Noiva, seguida pelo Trafaria Praia, primeiro pavilhão flutuante da Bienal (onde a artista marcou presença por sete vezes no total), representando Portugal em 2013. A mais jovem artista e a única mulher no Palácio de Versalhes, a sua exposição de 2012 foi a mais visitada na França em 50 anos. Em 2018, Joana Vasconcelos tornou-se a primeira artista portuguesa a expor no Guggenheim Bilbao, com uma das retrospetivas com maior afluência da história do museu, alcançando o quarto lugar no Top 10 das exposições anuais do The Art Newspaper.
A obra de Joana Vasconcelos chegou a grandes museus e galerias do mundo da arte, tais como: Palazzo Grassi, The Thyssen-Bornemisza, Royal Academy of Arts, Manchester Art Gallery, CCBB de São Paulo, Istanbul Modern, Moscow's Garage Center for Contemporary Culture, La Monnaie Paris, Palais de Tokyo e Hermitage. A sua arte marca presença em grandes coleções internacionais, como as de Calouste Gulbenkian, Coleção Berardo, The Ömer Koç, Tia Collection e das fundações François Pinault e Louis Vuitton.
No total, foram atribuídos à artista plástica mais de 30 prémios. Em 2000 venceu o Prémio Novos Artistas Fundação EDP, foi considerada Personalidade do Ano pela Foreign Press Association em 2012 e recebeu o Prémio de Arte Contemporânea em Israel em 2013. Em 2009 foi agraciada com o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República Portuguesa e em 2022 tornou-se Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura Francês.
Em 2012, criou a Fundação Joana Vasconcelos, com o objetivo de promover a arte para todos. Além de gerir a sua coleção de arte, esta instituição colabora regularmente com outras entidades filantrópicas no apoio a causas sociais, através de iniciativas de angariação de fundos, bem como da criação de edições especiais. Todos os anos concede bolsas de estudo, no contexto da parceria desenvolvida com a Universidade de Évora, de forma a incentivar o estudo das artes.
10h00 - 17h30
Encerra à segunda-feira.